Casa Film Special vr 08 dec 14:00 Meeting Vincent Carelli – Film screening “MARTÍRIO”

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08 December 2017
Aanvang 14:00 uur
Deur open 13:30
After the screening, Q&A with director Vincent Carelli.

In stock

Description

Martírio, 160 min.
English subtitles.

Português embaixo

“Martírio” by Vincent Carelli, Ernesto de Carvalho and Tita, on Friday, December 8th at 3:00 p.m. With the presence of director Vicente Carelli!

“Martírio is a blow (well given) in the stomach, a cry for help, an urgent denunciation, but also a reverence for the indigenous peoples, especially the Guarani Kaiowa, its protagonists.”

The documentary Martírio, by filmmaker and indigenist Vincent Carelli (co-directed by Ernesto Carvalho and Tita), which tells the saga of the Guarani-Kayowaa Indians to retake their lands, was released last year at the Brasilia Film Festival. special sessions, has toured countless festivals and was highly prized.

Painful and necessary, it is an invitation for us to become more aware of the harsh and violent reality of indigenous peoples in Brazil, from the resistance of the Guarani-Kayowaa ethnic group against the powerful agribusiness apparatus. It causes us to reflect, but it goes beyond: it is courageous and invites us to confrontation.

‘Martírio’ is narrated in the first person by Carelli, who brings his affective memory and militancy to the Guarani-Kayowaa. In it are testimony and memories of more than a century of massacres and of the omission of the Brazilian State against the genocide in Mato Grosso do Sul.

Surrounded by agribusiness farms in Mato Grosso do Sul, the Guarani-Kaiowá live in camps that resemble favelas, record high rates of suicide and are killed by gunmen. Farmers see the Indians as invaders of their properties; already the Indians demand the right to return to the expropriated lands of their ancestors.

To turn the film into a true history class for any age, Carelli and his team used historical archives and images produced by Carelli over the course of ten years. It goes back to the origins of indigenous politics since the Paraguayan War, including the integration of Indians into the work system (whites !!), to the massacres promoted by agribusiness and the ruralist group today.

“Now with this tragedy with the Guarani Kaiowa, something must be done, and cinema is a powerful tool, I learned this from Corumbiara. It is not by taste that I have dealt with the theme of violence against the Indians, it is by imposition of events. “(Carelli)

What we see on the screen is the peaceful and stubborn insurgency of this ethnic group in a great march for the resumption of their sacred territories through the camera of Carelli, who recorded the beginning of the movement in 1980. It presents a disproportionate conflict of forces, revealing the origins of the genocide. The Indians themselves show us the struggle undertaken, their resistance (often spiritual) and tell about their deep connection with the sacred land to which they belong.

How did we come to this dramatic situation? Explains the filmmaker: “The film takes a dip in the past, from the Paraguayan War (1864-1870) to the present day, to investigate the origins of the struggle of the Kaiowá Guarani for the resumption of their lands. “It is the history of Brazil from the perspective of the Indians. Is there lack of information on the indigenous situation in Brazil? No doubt because the hegemonic media does not speak of Indian, it has become a taboo subject. It is something that circulates in social networks, or rather, circulates in my social network, because it is restricted to a bubble. All this motivated me to make Martyrdom: the need to clarify this drama. Here is not Syria, it is not possible these gunshot homicides in the 21st century! The Indians are not a bunch of freaks who have decided to invade farms. They are going to very specific places, which they know, where the ancestors lived and are buried. Everything has a reason for being. The film sets out to clarify this misconception. The great responsibility lies with the government. It was state actions that led to this expropriation of indigenous lands. Whoever leased and then parceled out these areas, whoever omitted to recognize the territories of the Indians was the State throughout recent history. The only way to turn this game over is for the Brazilian state to plead guilty, as did Canada, who apologized to the Indians. If the State recognizes this responsibility, this gives a turn in the judicial processes related to these disputes and the result is the demarcation of the indigenous lands. ”

About Vicente Carelli
Vincent Carelli (Paris, 1953) is an anthropologist, indigenist and French-Brazilian documentary filmmaker, creator of the Video in the Villages project (1987), which forms indigenous filmmakers.
Since 1973 he has been involved in projects to support indigenous groups in Brazil.
He was an Indianist at the National Indian Foundation. He was a journalist and free-lancer reporter for Isto é, Reporter Três and Movimento. He was also a photographic editor and researcher of the Indigenous Peoples Project in Brazil of CEDI – Ecumenical Center for Documentation and Information (succeeded by the Socioenvironmental Institute). At the end of 1979, he founded, with a group of anthropologists, the Centro de Trabalho Indigenista (CTI), an independent, non-profit organization to support indigenous projects. He was Director of the Indio Program at TV University (CTI co-production with UFMT).

* The documentary Corumbiara (2009), a feature film that tells the story of an indigenous massacre in 1985 at Gleba Corumbiara in the south of Rondônia, and the experience of the director with the isolated Indians, won the award for best film 37th Gramado Film Festival. Carelli also won the award for best director, shared with the gaucho filmmaker Paulo Nascimento. Corumbiara also received the grand prize of the 11th International Environmental Film Festival (FICA).

With his wife, the anthropologist from São Paulo, Virgínia Valadão (1952 – 1998), initiated the project Video in the Villages, in 1986. The project, created within the scope of the CTI, promoted, over more than twenty years, the images, making video an instrument of expression of their identity and reflecting their worldviews. In addition to training and equipping indigenous communities with video equipment, the project stimulated the exchange of information and images among nations, who discussed together how to present their reality to the rest of the world.

Português

Martírio”, de Vincent Carelli, Ernesto de Carvalho e Tita. Após projeção, Q & A com o diretor Vicente Carelli.

 “Martírio é um soco (bem dado) no estômago, um grito de socorro, uma denúncia urgente, mas também uma reverência aos povos indígenas, em especial aos Guarani Kaiowa, seus protagonistas”.

O documentário Martírio, do cineasta e indigenista Vincent Carelli (codirigido por Ernesto Carvalho e Tita), que conta a saga dos índios Guarani-Kayowaa para retomar suas terras, foi lançado no ano passado, no Festival do Cinema de Brasília, foi exibido em algumas sessões especiais, já percorreu inúmeros festivais e foi premiadíssimo.
Dolorido e necessário, é um convite para que nos tornemos mais conscientes da dura e violenta realidade dos povos indígenas no Brasil, a partir da resistência da etnia Guarani-Kayowaa contra o poderoso aparato do agronegócio. Nos provoca a refletir, mas vai além: é corajoso e nos convida ao enfrentamento.

Segundo filme de uma trilogia (que começou com Corumbiara e terminará com Adeus, Capitão, que está em desenvolvimento), ‘Martírio’ é narrado na primeira pessoa por Carelli, que traz sua memória afetiva e militância junto aos Guarani-Kayowaa. Nele estão o testemunho e as lembranças de mais de um século de massacres e da omissão do Estado brasileiro frente ao genocídio no Mato Grosso do Sul.

Rodeados por fazendas do agronegócio no Mato Grosso do Sul, os Guarani-Kaiowá vivem em acampamentos que se assemelham a favelas, registram altos índices de suicídio e são assassinados por pistoleiros. Fazendeiros vêm os índios como invasores de suas propriedades; já os índios reivindicam o direito de retornar às terras expropriadas de seus antepassados.

Pra transformar o filme em uma verdadeira aula de história para qualquer idade, Carelli e equipe valeram-se de arquivos históricos e de imagens produzidas por Carelli ao longo de dez anos. Ele remonta as origens das políticas indígenas desde a Guerra do Paraguai, passando pela integração dos índios ao sistema de trabalho (dos brancos!!), até os massacres promovidos pelo agronegócio e a bancada ruralista hoje.

“Agora com essa tragédia com os Guarani Kaiowa, é preciso fazer algo, e o cinema é uma ferramenta poderosa, aprendi isso com Corumbiara. Não é por gosto que tenho tratado do tema da violência contra os índios, é por imposição dos acontecimentos.” (Carelli)

O que vemos na tela é a insurgência pacífica e obstinada dessa etnia numa grande marcha pela retomada de seus territórios sagrados através da câmera de Carelli, que registrou o início do movimento em 1980. Ele nos apresenta um conflito de forças desproporcionais, revelando as origens do genocídio. Os próprios índios nos mostram a luta empreendida, sua resistência (muitas vezes, espiritual) e contam sobre sua profunda ligação com a terra sagrada a qual pertencem.

Como chegamos a essa situação dramática? Explica o cineasta: “ O longa dá um mergulho no passado, da Guerra do Paraguai (1864-1870) aos dias de hoje, para investigar as origens da luta dos Guarani Kaiowá pela retomada de suas terras. “É a história do Brasil da perspectiva dos índios. Falta informação sobre a situação indígena no Brasil? Sem dúvida porque a mídia hegemônica não fala de índio, virou um tema tabu. É algo que circula nas redes sociais, ou melhor, circula na minha rede social, porque fica restrito a uma bolha. Tudo isso me motivou a fazer Martírio: a necessidade de esclarecer esse drama. Aqui não é a Síria, não é possível esses homicídios a bala em pleno século 21! Os índios não são um bando de malucos que resolveram invadir fazendas. Eles estão indo para lugares muito específicos, que eles conhecem, onde os antepassados moraram e estão enterrados. Tudo tem uma razão de ser.  O filme se propõe a esclarecer esse equívoco. A grande responsabilidade é do governo. Foram ações do Estado que levaram a essa expropriação das terras indígenas. Quem arrendou e depois loteou essas áreas, quem se omitiu no reconhecimento dos territórios dos índios foi o Estado ao longo da história recente. O único jeito de virar esse jogo é o Estado brasileiro se declarar culpado, como fez o Canadá, que pediu perdão aos índios. Se o Estado reconhece essa responsabilidade, isso dá uma guinada nos processos judiciais relacionados a essas disputas e o resultado é a demarcação das terras indígenas.”

Sobre Vicente Carelli
Vincent Carelli (Paris, 1953) é um antropólogo, indigenista e documentarista franco-brasileiro, criador do projeto Vídeo nas Aldeias (1987), que forma cineastas indígenas.
Desde 1973 está envolvido com projetos de apoio a grupos indígenas no Brasil.
Foi indigenista da Fundação Nacional do Índio. Foi jornalista e repórter fotográfico free-lancer das revistas Isto é, Repórter Três e do jornal Movimento. Foi também editor fotográfico e pesquisador do Projeto Povos Indígenas no Brasil do CEDI – Centro Ecumênico de Documentação e Informação (sucedido pelo Instituto Socioambiental). No final de 1979, fundou, com um grupo de antropólogos, o Centro de Trabalho Indigenista (CTI), uma organização independente, sem fins lucrativos, destinada a apoiar projetos voltados aos indígenas. Foi Diretor do Programa de Índio da TV Universidade (co-produção do CTI com a UFMT).

*O  documentário Corumbiara (2009), um longa-metragem que conta a história de um massacre de indígenas ocorrido em 1985 na Gleba Corumbiara, no sul de Rondônia, e a vivência do diretor com os índios isolados, obteve o prêmio de melhor filme do 37º Festival de Cinema de Gramado. Carelli ganhou também o prêmio de melhor diretor, dividido com o cineasta gaúcho Paulo Nascimento. Corumbiara também recebeu o grande prêmio do 11° Festival Internacional de Cinema Ambiental (Fica).

Com sua mulher, a antropóloga paulista Virgínia Valadão (1952 – 1998), iniciou o projeto Vídeo nas Aldeias, em 1986.O projeto, criado no âmbito do CTI, promoveu, ao longo de mais de vinte anos, o encontro dos indígenas com suas imagens, tornando o vídeo um instrumento de expressão da sua identidade e refletir suas visões de mundo. Além de treinar e equipar as comunidades indígenas com equipamento de vídeo, o projeto estimulou a troca de informações e de imagens entre as nações, que discutiam juntas a maneira de apresentar sua realidade para o resto do mundo.

Quando, em 1988, Vincent Carelli filmou a luta do Guarani-Kaiowa para recuperar suas terras no Mato Grosso do Sul, pouco ele sabia que, vinte anos depois, a violência seria ainda pior e seus direitos adquiridos ameaçados pela pressão dos lobbies do agronegócio. Voltando com seus colaboradores Ernesto e Tita, ele explora a história colonial do país. Os raros octogenários que sobreviveram às expulsões e assassinatos são a memória viva das sucessivas ondas de perseguição. Martírio extrai sua força de sua busca implacável por todo tipo de material oral, sejam arquivos de televisão ou entrevistas com os descendentes dos colonos, que insistem que os nativos nunca viveram em sua propriedade: “Um antropólogo disse que esta era uma aldeia indígena … um cemitério … Eles estão inventando! “Uprooted várias vezes, morto a tiros ou desgastado por veículos, os interlocutores dos cineastas mostram os túmulos que eles construíram e a terra que foi arrancada deles. Carelli também segue os procedimentos judiciais e os debates políticos em que a FUNAI – uma agência governamental criada para implementar as políticas indianas – se encontra enrolada, talvez porque é a prole da “Guarda indiana”. O que o afecta acima de tudo é uma lealdade a essas comunidades encolhidas, aos seus rituais e ao seu modo de vida. A perseverança dos cineastas é uma oda dessa resistência duradoura e não-violenta”. (Charlotte Garson)

http://videonasaldeias.org.br/2009/index.php

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